quarta-feira, 19 de junho de 2013

Demissões por causa do Twitter

Antes, quem queria reclamar do trabalho ou de quaisquer fatos do cotidiano teria de se encontrar com amigos para chorar as mágoas ou usar um diário pessoal para desabafar. Agora, muita gente acaba usando as redes sociais para compartilhar essas angústias com os conhecidos e o Twitter se tornou, para muitos, um diário de 140 caracteres.


O problema é que o que ficava restrito a uma mesa de bar ou a páginas de um caderno privado hoje é público. Aquilo que você coloca no Twitter pode ser compartilhado e encontrado por qualquer um com apenas um clique. E pode custar sua reputação e seu emprego.

Twitter oficial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

Quem trabalha com mídias sociais precisa tomar cuidado extra com o que publica – especialmente com o que publica no Twitter oficial do seu trabalho. No começo de 2012, o funcionário responsável pela conta da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (@imprensaPR) confundiu sua conta pessoal com a da Secretaria e acabou retuitando um site de humor.

“Com a volta de Luiza, quem tá indo pro Canadá é o Serra...”, dizia o tweet. A mensagem fazia referência a uma propaganda que ficou famosa na época e brincava com a figura do ex-adversário da presidente Dilma Rousseff, o tucano José Serra.

O autor do post foi demitido, o tweet deletado e o perfil oficial ainda comunicou: “Pedimos desculpas a todos pela publicação não autorizada, hoje, neste perfil, do retuíte indevido de um site humorístico”.

Thiago Vieira

O fotógrafo Thiago Vieira trabalhava no jornal Agora São Paulo quando o clube Palmeiras estava decidindo quem seria seu novo presidente, em janeiro de 2011. Enquanto esperava para tirar fotos do escolhido Arnaldo Tirone, ele usou sua conta pessoal no Twitter para publicar um recado chamando os palmeirenses de “porcos”.

O tweet foi visto por conselheiros do clube paulistano, que entraram na sala de imprensa e retiraram o fotógrafo. Em seu Twitter oficial, o Palmeiras postou que “após ofender a torcida, o fotógrafo Thiago Vieira não trabalhará mais no Palmeiras. O jornal para o qual ele trabalha já foi comunicado”. O Agora reprovou a agressão sofrida por Vieira na sala de imprensa, mas também informou que o fotógrafo não prestaria mais serviços para o jornal.


Gilbert Gottfried

O comediante americano é um bom exemplo de humorista que passou dos limites nas redes sociais. No Brasil, casos como o de Danilo Gentilli, que causou polêmica ao tuitar piadas consideradas racistas, ficaram famosos, mas não chegaram a custar o emprego do comediante. Gottfried não teve tanta sorte.

Pouco depois do terremoto e tsunami que destruíram o Japão em 2011, o americano postou piadas na sua conta pessoal: “O Japão é realmente avançado. Eles não vão à praia. A praia vem a eles”, tuitou. A companhia de seguros Aflac, cujo símbolo é um pato dublado por Gottfried, não achou graça nos comentários e decidiu dispensar o comediante.

Alec Duarte e Carolina Rocha

No jornalismo a “cultura do furo” é extremamente importante. Os veículos competem entre si para ver quem lança a notícia primeiro. Não é incomum, por exemplo, que existam obituários prontos de pessoas importantes, com imagens e textos já separados para serem publicados o mais rápido possível.

Quando, em março de 2011, o ex-vice-presidente José Alencar morreu, o então editor-assistente de política da Folha, Alec Duarte, fez referência a essa prática jornalística. Sem citar nenhuma pessoa ou veículo específico, ele escreveu: “nunca um obituário esteve tão pronto. É só apertar o botão”. A repórter do Agora SP, Carolina Rocha, respondeu dizendo que a notícia da morte de Alencar ainda não estava no site da Folha.com.

Por causa da troca de tweets, os dois jornalistas, que trabalhavam para o mesmo grupo, foram demitidos.

Mayara Petruso

No caso da estudante de Direito Mayara Petruso, os comentários feitos por ela em 2010, depois da vitória de Dilma Rousseff custaram caro. Mayara foi condenada, a um ano e cinco meses de prisão por crime de racismo depois de postar críticas a nordestinos (a quem ela atribuía a eleição da presidente Dilma).

A pena da jovem foi convertida em prestação de serviços comunitários e multa de 500 reais justamente por conta da repercussão do caso. Além de ter sido demitida de seu estágio, Mayara abandonou a faculdade e ficou reclusa em sua casa por seis meses.

Anthony Weiner

O caso ficou tão famoso nos Estados Unidos que passou a ser chamado de “Weinergate”. O deputado Anthony Weiner tinha o hábito de manter conversar eróticas com jovens via mensagem direta (aquela que não é pública) do Twitter. Tudo bastante discreto até que ele se confundiu com os botões do celular e aquilo que era para ser privado – no caso, uma foto dele de cueca – acabou virando público.

O vazamento acidental da primeira foto levou outras a aparecerem pelas redes sociais e o deputado reconheceu que havia mandado a mensagem e que mantinha “conversas inapropriadas” com seis mulheres. Em 2011, o escândalo era tamanho que Weiner se afastou do Congresso.

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