Maior sucesso da edição 2013 da Feira Internacional do Livro de Bogotá, o livro Casa das Estrelas: o Universo Contado pelas Crianças (faça o download grátis de trecho do livro em espanhol) deve ganhar uma edição em português, segundo antecipou o autor Javier Naranjo em entrevista a Universia Brasil. "Algumas editoras me procuraram para lançar a obra em português. Em breve estarei no Brasil", disse. O livro foi publicado pela primeira vez na Colômbia em 1999 e reeditado no início desse ano. Trata-se de um dicionário feito por crianças que apresenta 500 definições para 133 palavras, de A a Z.
O autor coletou as informações durante dez anos enquanto trabalhava como professor em diferentes escolas do estado de Antioquía, região rural da Colômbia e, como resultado, obteve um dicionário com verbetes ao mesmo tempo divertidos, lógicos e reais. Em entrevista à Universia, Javier Naranjo disse que não censurou ou alterou nenhuma palavra das definições dos seus alunos. "Apenas corrigi a pontuação e ortografia. O livro mantém a voz literal das crianças", garantiu.
A seguir, leia a entrevista na íntegra com Javier Naranjo, autor do dicionário "Casa das estrelas: o Universo Contado pelas Crianças". Para ele, as crianças revelam muitas coisas que os adultos já esqueceram. Confira:
Seu livro "Casa das estrelas: o Universo Contado pelas Crianças" agora é um fenômeno. Como se sente diante de tantas críticas positivas?
Estou muito surpreso e agradecido. Agradeço com certa cautela porque este é um trabalho das crianças. Tenho algumas teorias sobre esse sucesso todo. A primeira delas é que as edições anteriores (o livro está na quarta edição) não tiveram muita divulgação. Apenas alguns veículos aqui da Colômbia comentaram sobre o livro. Minha outra teoria é um tanto sonhadora e romântica. Penso que é necessário um tempo para cada coisa. Há excelentes livros disponíveis, mas às vezes não estamos preparados para eles. Não estou dizendo que as pessoas não estavam preparadas para "Casa das Estrelas". Talvez não estavam preparadas para escutar coisas tão poderosas, poéticas e reveladoras que disseram as crianças neste livro. E o mais engraçado é que eu nunca pensei em escrever um livro. Até hoje, sigo compilando as definições das crianças.
Como surgiu a ideia de fazer esse trabalho?
Simplesmente trabalhava como professor de criação literária em uma escola da zona rural da Colômbia. Tive liberdade para realizar esse trabalho da forma que desejava. Um dia inventei um jogo de escrita. Perguntei a um pequeno aluno o que significa a palavra criança. Ele respondeu: "uma criança é um amigo, que tem cabelo curtinho e marrom e que dorme cedo". Foi assim que tudo começou. Fiquei impressionado com a capacidade de sínteses, pela lógica impecável e pela eficácia na definição. Comecei a explorar novas palavras com as crianças. Essa exploração levou 10 anos, que culminou com o lançamento do livro.
Você editou as definições das crianças para a publicação? Houve alguma alteração?
Definitivamente, não. O livro mantém a voz literal das crianças. Não mudei nenhuma palavra. Apenas corrigi a pontuação e ortografia. Uma revista aqui da Colômbia sugeriu que essas definições não foram feitas totalmente pelas crianças. Eu diria que quem pensa assim não conhece a genialidade que há no pensamento de uma criança. Uma criança é capaz de fazer elaborações poéticas e reveladoras.
O que o livro "Casa das Estrelas" pode ensinar aos adultos?
O livro pode mudar a visão de um adulto para uma mais despretensiosa. Acredito que também ensina transparência. As expressões das crianças reunidas neste livro são capazes de tocar o coração de qualquer pessoa. As crianças dizem coisas maravilhosas. Eu me aproximo delas com muita atenção e respeito.
Alguma definição das crianças pareceu particularmente amarga ou sem esperança?
Sim. Várias. Tinha uma criança que dizia que a vida é amargura. Outra deu uma definição de medo que me pareceu terrível. Disse que medo é “quando um senhor chega para matar minha mãe e meu pai”. Eu estava todo o tempo muito sensibilizado. Experimentava sensações agridoces. Ria, mas também ficava todo estremecido. Outra criança disse sobre solidão: “eu não conheço, mas é quando uma pessoa não tem com quem falar”. Essa definição é muito triste e perturbadora. Todas as definições estão cheias de tristeza e desesperança. Às vezes, sinto que as crianças estão sozinhas em um mundo que se nega a escutá-los.
Alguma definição fez você mudar de atitude?
Sim. Quando uma criança disse que adulto é "uma pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma". Agora, presto mais atenção. Este livro "Casa das Estrelas" está cheio de tristezas, alegrias e esperanças.
Por que trabalhar com crianças e não com adultos ou idosos?
Primeiro porque as crianças mudam a minha atitude. Adoro o sorriso e o desinteresse delas. Dizem coisas incríveis a todo o momento. E também porque não quero deixar de escutá-las. As crianças revelam muitas coisas. Os adultos perdem essa essência com o tempo.
Algumas definições do livro:
Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)
Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
Deus: É o amor com cabelo grande e poderes (Ana Milena Hurtado, 5 anos)
Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)
Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)
Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)
Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)
Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)
Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)
Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)
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